16 de jul. de 2012

Deus da carnificina: uma crítica à crítica de Polanski

Por Karyme Reis

O encontro entre os dois casais: Penelope (Jodie Foster)
e Michael (John C. Reilly) recebem a visita de Nancy (Kate Winslet)
 e Alan Cowan (Christoph Waltz) / Foto: Divulgação
Significado de carnificina: mortandade, extermínio, matança. Eis o título: Deus da Carnificina. Sem sinopses, trailers ou releases, poderia o espectador dar asas a sua mente e se deixar levar pelo imaginário, associando, possivelmente, tal título às tramas mais ensanguentadas das sessões de terror.  Entretanto o gênero não passa de uma comédia dramática, ou quem sabe, um drama cômico. Propõe uma reflexão sobre as relações humanas que são facilmente identificadas no cotidiano de qualquer espectador.



O longa de Roman Polanski, Deus da Carnificina, ainda em cartaz nos cinemas, traz uma adaptação da peça homônima da dramaturga francesa Yasmina Reza. A peça é um retrato dos dias atuais, com personagens que tentam ser educados e manter a compostura, mas que não perdem seu lado humano que, por vezes, se deixam levar pela impulsividade. Yasmina atua como corroteirista no filme de Polanski, que dirige um quadro de atores escolhidos a dedo: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly. Uma pequena briga entre dois colegas de classe, na qual um dos pré-adolescentes quebra dois dentes do outro com um bastão, ocasiona o encontro dos pais dos envolvidos para uma conversa sobre o acontecido. Os pais do jovem “agressor”, Nancy (Kate Winslet) e Alan Cowan (Christoph Waltz), vão até o apartamento do casal cujo filho perdeu dois dentes na briga, Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly). O encontro que deveria ser permeado por uma simples conversa a respeito de um acontecimento corriqueiro – briga entre “crianças” – acaba se transformando numa discussão que explora o íntimo dos personagens. Os quatro, de raízes culturais completamente distintas, acabam por deixar transparecer essas diferenças latentes.

O resultado se dá em um diálogo bastante acirrado, por vezes, dramático, outras horas, cômico deixando o espectador envolvido do início ao fim.  O que poderia facilmente se tornar um filme monótono e cansativo, por ter como cenário apenas o apartamento do casal Penelope e Michael, tem efeito contrário. Evidente que o tempo reduzido (de oitenta minutos) ajuda a não cansar o espectador. Entretanto, mesmo assim, é preciso exímia direção e roteiro para que uma adaptação do teatro funcione nas telas. E funcionou. É importante destacar também a atuação dos atores, em especial Christoph Waltz, que trabalha de forma brilhante o texto, com uma grande sacada no telefone celular que funciona como respiro na trama. Outro ponto interessante está na maneira como é conduzido o enredo, deixando o público bastante curioso em conhecer os filhos, que incialmente parecem ser os personagens principais. Contudo, por fim, acaba-se esquecendo do verdadeiro conflito em meio às críticas ao mundo moderno, muito bem construídas nessa carnificina que as palavras têm o poder de causar.

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