19 de jul. de 2012

Não cessem as panelas

Por Guilherme Daroit

Fotos: Divulgação
Sempre gostei de comédias românticas. E de cinema argentino. Não sei ao certo listar os porquês, mas sempre criei empatia com filmes leves, descompromissados, com uma ou outra boa piada, que não têm por objetivo mostrar aos outros que são a melhor coisa do mundo. O que, paradoxalmente, não foi o caso de Medianeras, por essas terras acrescido do subtítulo “Buenos Aires na Era do Amor Virtual, união das duas vertentes, lançado em outubro de 2011 na terra dos panelaços.

Filme de estreia de Gustavo Taretto, a fita é uma releitura estendida de um curta de mesmo título produzido em 2005 pelo diretor e roteirista. E, bem, se estreias normalmente já pecam em muitos aspectos, não há por que esperar algo diferente em um filme seis anos ainda mais novo. Não que seja um filme ruim, bem longe disso, mas para apreciá-lo há de se ter saco para filmes universitários pretensiosos e seus diálogos entupidos de citações e referências cults sem qualquer sentido, a não ser a masturbação e egotrip intelectual de seu círculo de amizades. Algo que, talvez pela queda de cabelo prematura, eu infelizmente já não tenho mais.

Espécie de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain sul-americano – pra manter um padrão de comparação que depois não se cumpre – Medianeras tem, obviamente, muitos méritos. Tirando os diálogos e a pretensão, o filme, que empilha prêmios em festivais, como o de Gramado, é bem construído. As cenas, os enquadramentos, a bonita fotografia – muito bonita, tudo encaixa muito bem ao roteiro em sua interpretação da fugacidade e da casualidade do amor e das relações humanas em nossos tempos altamente tecnológicos em áreas extremamente urbanizadas como Buenos Aires.

A metáfora é centrada nos desencontros de Martín, webdesigner largado pela namorada interpretado por Javier Drolas, e Mariana, vitrinista em processo de separação interpretada por Pilar López de Ayala que, embora muito parecidos – percebemos através dos malditos diálogos cheios de referências – e praticamente vizinhos, se perdem em meio à multidão e à confusão do centro da capital argentina. E absolutamente tudo, até mesmo os diálogos, vai guiando o espectador e converge para esse fim. Até mesmo a infelizmente já abominável referência eterna ao ótimo Manhattan – há até uma pequena inclusão do filme – e seu criador, Woody Allen, que se transformaram no ícone da chatice e pieguice de cineastas universitários que, como os jornalistas universitários presos a Hunter Thompson – tão genial quanto – parecem não se tocar de que CHEGA.

O título do filme, caso tenha despertado curiosidade, vem das tais “medianeras” de prédios, que são as laterais de edifícios à espera certeira de que, em um lugar extremamente urbanizado, em algum momento haverá outro prédio colado ao seu lado. Em Buenos Aires, esses espaços são proibidos por lei de abrigarem qualquer janela, o que cumpre um certo papel no roteiro, além de ser uma bela metáfora para o enredo.
Tomando o direito de antecipar ainda mais coisas a quem nunca o viu, é possível compreender Medianeras por meio de algumas de suas cenas. Algumas muito boas, como uma em que os dois personagens principais se cruzam em uma loja de sua rua em um momento de falta de energia (a cena é muito mais complexa do que isso, mas não a desmebrarei por completo porque né), por exemplo, que apesar de relativamente clichê, tem um papel a cumprir no enredo. E algumas totalmente dispensáveis, como quando Martín arruma sua mochila ao sair de casa levando uma série de coisas sem sentido, unicamente para mostrar o quão nerd-power, cult e cinematográfico o personagem é.  Mas todas, porém, muito bem cortadas, aparentemente pensadas e, principalmente, muito bem fotografadas.
E é por aí, da constante mescla desses dois tipos de cenas, que o filme passa. E tem o seu mérito de, como toda comédia romântica, ser agradável o suficiente para não acabar com a paciência do espectador. Exceto pelos – já falei deles? – diálogos, claro. “Achei bonitinho” é uma das críticas que mais tenho ouvido sobre ele, o que quer dizer algo (MUITO), tanto para o bem quanto para o mal. E também o de, como todo filme universitário e/ou argentino, não se furtar de ao menos tentar, e aqui acredito que efetivamente o consegue, refletir artisticamente sobre os problemas atuais do povo que o faz e o assiste. Não é o apogeu do cinema, mas também está longe de ser ruim (sim, depois de todas as críticas, fico em cima do muro). É um filme mediano, pra não perder a oportunidade do péssimo trocadilho que, afinal de contas, e para azar do bom senso, qualifica bem a fita. Ou talvez seja só eu, sem tempo e cansado da correria maluca das cidades grandes, que esteja rabugento demais. Deve ser.

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