16 de jul. de 2012

O contador de histórias em formação

Oficina na Casa de Cultura Mario Quintana ensina técnicas para qualificar a contação de história


Por Greice Gomes


Mostrar o próprio trabalho no palco ainda
 era um desafio / Foto: Greice Gomes
A contação de história, muitas vezes, constitui-se como o primeiro contato da criança com a literatura. No entanto, o interesse despertado pela narração não se restringe à infância. A transposição de uma linguagem impressa para uma história oral agrega um tom lúdico essencial para prender a atenção do público. Não raro, a narração também vem acompanhada de recursos visuais e sensoriais para ilustrar mais ainda o que está sendo contado.

A vontade de dominar essas técnicas de contação tem levado muitas pessoas a buscar formação na área. Engana-se quem pensa que o perfil dos novos contadores restringe-se a pessoas ligadas à área da educação. Na oficina de contação de histórias promovida na Casa de Cultura Mario Quintana pela arte-educadora e graduada em Letras Rosane Castro, quase trinta alunos de diferentes formações buscavam uma especialização na arte de narrar histórias.

Rosane destaca que os alunos vêm de realidades bem diferentes – há professores, bibliotecários, funcionários de banco, corretores de imóveis –, mas todos têm em comum uma vivência relacionada à contação. Segundo ela, o que mais motiva as pessoas a buscarem esse conhecimento é o fascínio pela imaginação que a oralidade desperta. “As imagens narradas pelo contador serão processadas de maneiras diferentes por cada um dos ouvintes presentes, estimulando a criatividade e a imaginação”, afirma. Rosane acrescenta que a contação de história é uma forma de resistência à produção cultural realizada em meios como a televisão, na qual “estamos acostumados a receber as imagens prontas”. Com a contação, salienta, “uma mesma história será sempre recontada de diferentes formas, pois cada um vai refletir uma visão única sobre ela”.

A oficina, com dois encontros semanais durante um mês, proporciona aos alunos um aprendizado baseado, sobretudo, na prática. Rosane explica que um dos recursos que utiliza é solicitar que os participantes criem histórias totalmente inusitadas a partir de uma imagem. Ela argumenta que o desenvolvimento da prática é que vai estimular a autoconfiança do contador. Em outra oficina que ministrava em Camaquã, a arte-educadora relembra que uma aluna havia dito no início da aula que era “muito travada” para contar histórias. No entanto, com incentivo e desenvolvimento de algumas técnicas, ela conseguiu iniciar a história que o resto da turma deveria continuar contando. “Quando vi, foram 30 pessoas construindo a mesma história com uma unidade impressionante”.

Os alunos construíram uma história
coletiva / Foto: Greice Gomes
Um dos recursos que Rosane utiliza para desenvolver a espontaneidade dos alunos e fazê-los perceber suas próprias potencialidades é pedir que eles usem bonecos na hora de narrar. “Ao usar um boneco, eles colocam todo o foco nesse objeto e esquecem completamente a timidez. Na mesma hora, já começam a criar vozes diferentes para cada boneco e utilizar plenamente todas as potencialidades da voz”. De acordo com a arte-educadora, o principal recurso da contação de história é a voz do contador e a sua capacidade de envolver o público pelo olhar. “Qualquer elemento além da voz é um recurso acessório. O recurso do contador é ele mesmo”, acrescenta.

Da oficina para a prática

A auxiliar de biblioteca Josiane Oliveira Leite procurou a oficina para qualificar a hora do conto que realiza com alunos de educação infantil e ensino fundamental. Ela diz que, desde que começou a realizar a atividade de hora do conto na escola há meio ano, os resultados têm sido motivadores. Os alunos – mesmo os que ainda não leem – são estimulados a contar as histórias que veem nos livros e a envolverem os pais nesse processo. “Eles estão usando a criatividade pra reinventar o que estão lendo”, destaca.

Veja depoimentos de outros participantes da oficina aqui.

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