20 de jul. de 2012

Uma nova ameaça para o Xingu

Por Victor Eskinazi

Os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas são interpretados
no filme, respectivamente, por João Miguel, Felipe Camargo
 e Caio Blat / Foto: Divulgação
A questão do primeiro contato entre culturas sempre foi traumática, e via de regra esse tipo de encontro subjugou o lado mais fraco. Assim foi no período das grandes navegações, seja na América, África, Ásia ou Oceania. Povos isolados tendem a desenvolver particularidades tanto culturais quanto físicas que, ao mesmo tempo que os torna aptos para sobreviverem no seu habitat natural, os torna vulneráveis às adversidades do mundo civilizado.

No Brasil, desde o povoamento europeu a partir de 1500, os povos nativos sofrem com este contato que, na grande maioria das vezes, não foi pensado considerando as suas necessidades e vulnerabilidades. Um dos últimos capítulos desta trágica história ganhou uma nova versão com o lançamento do filme “Xingu”, do diretor Cao Hamburguer (2012). Confira o trailer aqui.

O filme conta a história dos irmãos Villas-Bôas (Orlando, Cláudio e Leonardo) que, na primeira metade do século passado, embarcaram em um projeto do governo brasileiro que tinha como objetivo fazer o reconhecimento e a ocupação de uma grande parte do território nacional até então praticamente desconhecida, a fronteira oeste.  Os três irmãos, interpretados respectivamente por Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat, que aparentemente atravessavam um momento de indecisão pessoal no início da trama, decidem participar da “Marcha Para o Oeste” como uma tentativa de encontrarem sentido para a própria vida. Ao se depararem com as tribos indígenas desconhecidas, o trio passa a ter uma abordagem diferente da pensada pelo governo brasileiro, que era de simples ocupação da terra. O empenho dos irmãos em proteger os índios e suas terras é mostrado no filme, assim como os problemas causados  em decorrência deste contato forçado. As cenas mais fortes da película mostram a morte de povoados indígenas inteiros em virtude das doenças trazidas pelos colonizadores e contraídas pelos nativos. Sensibilizados pelos danos causados em parte por eles mesmos, os irmãos começam uma campanha para a delimitação do Parque Nacional do Xingu, atualmente a maior reserva indígena do mundo.

O filme tem alguns problemas técnicos, notadamente de narrativa, em que certos fatos parecem estar soltos na trama, e não obteve a bilheteria esperada para o investimento feito (o orçamento total foi de R$ 14 milhões). No entanto, a história contada é de extrema relevância, e há muitos pontos altos a se destacar, entre eles a fotografia e a atuação dos atores principais. No RS, o filme ficou envolto em uma polêmica devido a declarações feitas a respeito do público gaúcho que nada acrescentam  ao debate que deveria acompanhar este filme. Estes fatos indicam a falta de maturidade cultural do público brasileiro em geral e principalmente do gaúcho, pois mostram que um assunto de grande importância como a situação dos povos nativos brasileiros, até hoje oprimidos ou mesmo dizimados, não recebe a devida atenção da sociedade civil e muito menos da grande imprensa.

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